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A Teologia do Corpo do Papa João Paulo II

Fonte - www.padrepauloricardo.org
O Bem-Aventurado Papa João Paulo II deu continuidade à tradição iniciada pelo Papa Pio IX, em 1870, com as chamadas Audiências Gerais. Elas acontecem desde então, às quartas feiras, e são um modo de o Sumo Pontífice relacionar-se mais de perto com os peregrinos. Nelas são proferidas as chamadas "catequeses".
Enquanto ainda era cardeal, o Papa João Paulo II iniciou a escrita de um livro que acabou não sendo nem terminado nem publico, justamente por sua eleição. Tal livro, intitulado "Homem e Mulher Ele o Criou", teve seus capítulos apresentados durante as Audiências Gerais do ano de 1979 até 1984.
Foram 129 catequeses a respeito da chamada Teologia do Corpo, que jogou a luz do Evangelho sobre a confusão moderna que se instalou sobre o relacionamento entre homem e mulher. O Papa conseguiu apresentar a sexualidade humana de maneira fiel ao ensinamento da Igreja e, ao mesmo tempo, nova. A tradição foi apresentada de um modo que o mesmo homem atual consegue entender.
Em 1985 foram publicadas 133 catequeses, pois algumas não haviam sido pronunciadas em público. A edição italiana foi publicada em português pela EDUSC, em 2005. No entanto, os textos do Papa, por serem bastante profundos, necessitam de uma espécie de "tradução", ou seja, postos numa linguagem mais simples. Um bom subsídio para iniciantes é o livro de Christopher West, "Teologia do Corpo para Principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II", Editora Myrian, 2008. Outra obra que será utilizada neste curso é o comentário do próprio Christopher West às Catequeses, intitulado "Theology of the Body Explained (Revised): A Commentary on John Paul's "Man and Woman He Created Them".
O Romano Pontífice afirma que "o corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino. Foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério oculto desde a eternidade em Deus e assim ser sinal d´Ele."(19,4)[01] Esta é a intuição básica de toda sua teologia.
Segundo ele, a observação do ser humano em sua integridade permite enxergar algo de Deus. Da mesma forma, observando como Deus Se revelou em Jesus Cristo é possível entender - no Deus que se fez carne - algo do ser humano. Esta circularidade divina revelada no homem e do homem que se revela no Deus que se encarnou - teologia e antropologia que se fecundam mutuamente -está contida no Capítulo 2 do Gênesis:
E o Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda". Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao homem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse. Então o Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher a apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: "Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘humana’ porque do homem foi tirada". (Gên 2, 18-23)
Esta belíssima poesia - a primeira de amor - foi proclamada antes do pecado primeiro. A união de Adão e de Eva no Paraíso, antes de o projeto de Deus ser distorcido pela desobediência, logo no início da Bíblia, reflete um outro enlace narrado no último Livro, as núpcias do Cordeiro, o casamento entre Deus e o homem. É interessante notar o desejo de Deus em unir-se à humanidade.
O ser humano foi feito para este casamento último. É por isso que nenhum homem ou mulher encontrará em seu companheiro aqui na Terra o preenchimento do coração, porque somente em Deus será saciado o anseio do coração humano.
O namoro ou o casamento não podem ser empecilhos para a aproximação com Deus. O relacionamento de amor honesto, casto, de doação deve ser um trampolim para o Divino e o desejo que se sente pelo sexo oposto deve refletir a busca pela verdadeira felicidade que, como já foi dito, somente será saciada em Deus.
Justamente por causa disso é que o homem peca. O Diabo se apropria do instinto natural de todo ser humano pela sexualidade e a perverte. Os homens passam, então, a procurar no sexo um "deus alternativo".
E este casamento encontra sua plenitude na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é a união entre Deus e a humanidade, numa só pessoa. E é por isso que o Papa João Paulo II diz: "Pelo fato de o Verbo de Deus ter se feito carne, o corpo entrou pela porta principal na teologia."(23,4)
Além desta preciosa intuição básica, o Papa João Paulo II apresenta, em sua Teologia do Corpo, um método entusiasmante. O universo filosófico-teológico a que ele pertencia era riquíssimo e é importante deixar claro, ao menos para os estudantes de Filosofia, o quanto se pode extrair dela. É possível elencar três chaves de leitura:
  1. Estudou Santo Tomás de Aquino no Angelicum em Roma, portanto, foi um tomista que usou o Aquinate para entender São João da Cruz e a espiritualidade carmelitana.
  2. Além de tomista, João Paulo II foi adepto do "personalismo", portanto, cria no conceito de "pessoa" e na relacionalidade presente na substância do ser humano.
  3. Tomista e personalista, João Paulo II foi também adepto da "fenomenologia", ou seja, corrente contrária ao positivismo que tem seu ponto de partida nas experiência pessoais, extinguindo, portanto, a separação entre o sujeito e o objeto.

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