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Uma pausa




Eu já quis acelerar os ciclos da vida e crescer mais rápido do que a natureza. Peguei inverno no outono e não abracei, no momento certo, o sol do verão. Necessito de pausas maiores entre as respirações: inspirar e expirar mais lentamente e sentir o fluido do ar; o cheiro do ar. O cheiro do ar é tão sutil que a gente não sente cheiro algum. Adoro esse não cheiro do ar, por assim dizer. Entrego-me aos prazeres do cotidiano. É hora de transformar responsabilidades em diversão: oportunidades de ampliar meus horizontes e aquecer meu coração a partir do convívio atento comigo mesma.

Lembrar-me disso é uma conquista. A confirmação vem com atitudes novas que nascem e eu as nutro. A ação diária de amor por mim mesma e pela vida está. Não sinto apenas desejo (este que me desvia de mim): vejo o risco de cair nos precipícios disfarçados de grama verde. Desafio. Viver é perigoso, disse Guimarães Rosa. E dói: perante o mundo e sua grandeza, nós, seres humanos somos acorrentados.

Cada um tem que aprender a soltar as correntes a seu modo, seguindo o próprio coração. Solitude acima de tudo. (Solitude é gostar de estar consigo mesma!)

O amor não pode ser feito de dois aprisionados tentando salvar-se mutuamente das correntes. Isso seria atentar-nos contra a natureza humana. Vejo que as pessoas ficam exigindo das outras que não sejam acorrentadas. Exigem que elas os libertem, e, no fundo, sabem (ou não?) da impossibilidade da demanda. Esperam que os outros não sejam o que são; pedem ao outro para não serem de acorrentada natureza humana. No relexo dos olhos do outro se vêem: máscaras caem diante do espelho. Aí se ofendem e não se admitem. Lembro-me de quando fiz isso.

Mas agora perdi o orgulho de ter nascido. (E a vergonha).

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