É
VOCÊ ESCRITO!
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Essas duas aí se viram no rumo da minha foto, na Plaza Mayor, de Madrid sem que nem eu nem elas intencionássemos causar isso. |
Paula
Beckher
(Poema escolhido para ser apresentado no Sarau da Associação Cultural Viraminas, em Três Corações, 29 de novembro de 2012)
É com o coração que se
escreve. É com o corpo e o coração e com a garganta. E com a mente cansada que
já não raciocina. A mente tomada, que já não reage. Esta mente apenas observa. A vida... Continua... Retorno, após mais uma
distração, mais um lapso. Recuperei a muiteza da imaginação sem canalização e
me posicionei. Acabou a ânsia de final. A vontade de mudar o
mundo...
A língua na boca, eu a
sinto. A garganta, o nariz e os ouvidos... Escrevo e recupero os sentidos perdidos no
labirinto da mente inercial. A cada palavra, uma ação. Do amor, para além de
mim, a coragem, mais uma vez. A grandeza de ser pequena. Sem medo. O formato é difícil de
adequar. Ele também é a mente tentando mandar. Ele também é vontade de agradar.
Eu me lembrei daquela
estória que há muito estava nos porões do sentimento esquecido. O legado. O
choro, o desespero, o vício, a incapacidade de comunicar-me que havia lá. A
minha linguagem é difícil por ser silêncio. Se quiser a chave secreta,
acompanhe-me o sussurro. Esta estória é de outros tempos, de outras eras, de
outro éon: e quer sair, quer ser contada. Mas ela é também silenciosa de
presença e de escuta. É pausa que se segue à outra pausa. É cura da loucura.
Há muita dor. É esta a
atualidade. Tristeza de ferida guardada. Por isso, a alienação. Alguém me
perguntou como se eu fosse autoridade de alguma e qualquer coisa: "Qual é a sua opinião sobre
a alienação?". Não falei nada, mas cá entre
nós, quem é que consegue não ser E. T.? Alienação é isso: todo mundo virando
Alien. Alien uns dos outros. Aliens! Separados de tudo, incapazes de
comunicarem-se através dos seus corações. Espera... Eu estou ouvindo
vozes... Você ouve? Ouça! Eu ouvi que é pra contar uma estória de verdade! Pois
bem. Deixe-me começar.
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Aqui vemos o meu nariz e o da Casa Batlo, de Gaudi, em Barcelona. Como eu, a construção do arquiteto catalão usa sunglasses.e baton |
Esta história é você
escrito! Esta história é qualquer um. Uma história de verdade é a história de
cada um. Eu aprendi e ensinei a
agressão. É isso mesmo, agressão. Eu a perpetuei. Tanto e tanto e sem fim! E
para me compensar dessa violência, alienei-me do sentimento de dor e perda que
senti exatamente por ter sido assim. Por culpa e incapacidade de mudar, eu me
prendi nesse ciclo vicioso de agressão e infelicidade. Por amor, fique aqui. Não se
disperse agora.
Silêncio. O exercício. É
tudo fragmento. Confusão. Desatar de nós. Enquanto eu faço isso, você está comigo
aqui, nesse fiar e é por isso que você fica sabendo de tudo. Por um acaso... ou
chame do que quiser. Querem de mim um argumento.
Argumento é tudo o que sou e isso que sou, tenho cansaço de registrar. Isso que
eu sou é lixo. Isso que eu sou já morreu. É peso morto. Nem tenho nada pra
contar.
Disseram pra contar sobre o que eu gostaria que fosse. Mas isso pode vir a ser! E se eu contar como eu gostaria que fosse quando vier a ser eu não vou querer que tivesse sido. Por isso, não posso contar sobre o que gostaria que fosse. A minha história pode apenas ser uma não história. Uma história completa e detalhada sobre o nada. De mim, o melhor, é a atualidade. Se me volto pra ontem ou amanhã vem aquela dor, aquele peso, aqueles trinta milhões de grilos cansados. E eles me dormem. Eles me estatuam. Eles me salinizam, me medusam. Tocou?
A minha linguagem é
auto-explicativa, com manual de instruções letra a letra. Para saber do fim, do
meio ou do começo, é preciso estar presente, aqui e agora. O tempo é um arrasto, uma
escorregada distraída que se estica mais e mais e mais e mais e mais e mais e
mais e escorre... e mais e mais e mais e mais... A realidade é fluida! O que busco? Em toda história há o que se
quer. É o que faz com que a mocinha, o mocinho, a criança, o anão ou a
tartaruga sigam viagem. Há o porquê da viajem existir. E há para todos.
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O destino não importa em nada. O que importa é a viagem! Buda |
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