Li hoje com Bruno e Gael o livro cuja capa ilustra este post. Foi uma leitura interessante, que nos ajudou a olhar com mais realidade as explicações científicas, religiosas e ideológicas que procuram explicar a origem do universo, da vida e do homem.
Segundo o autor, Jorge Pimentel Cintra, o objetivo de sua obra é "esclarecer as ambiguidades e analisar a incongruência de um evolucionismo amplo e irrestrito que, para negar a existência de Deus, propõe que a matéria evoluiu do nada ou se aplica a si mesma, sem necessidade de intervenção divina (origem do universo); que os seres vivos provém uns dos outros (origem da vida); e finalmente que o homem evoluiu do macaco (origem do homem)" (p.6).
O autor abole, com seus argumentos, os quais irei expor alguns aqui, a noção de que o evolucionismo e o criacionismo seriam teorias autoexcludentes. Ele chama de "falso dilema", aquele em que alguém se encontra quando perguntado sobre o que pensa a respeito da origem da vida: criação ou evolução? Segundo ele, esse questionamento serve de "pretexto para dizer que os católicos e a Igreja são avessos à ciência e preferem apegar-se à dogmas irracionais" (p.7). Como católicos não pretendemos ignorar os resultados da ciência, mas precisamos estar atentos à "intromissão de ideologias que querem servir-se do prestígio da ciência para defender posições pessoais ou preconceituosas"(p.7).
Ao aprofundar a reflexão sobre a origem do universo por meio da física cosmológica, o autor comenta que a hipótese do Big Bang - uma grande explosão ocorrida por volta de 15 ou 20 bilhões de anos, a qual foi sucedida de violentos fenômenos físicos que provocaram até hoje uma expansão contínua do universo - está na base do trabalho de quase todos os físicos cosmológicos, "mas isso não significa que a considerem definitiva" (p.11). O autor cita o exemplo do físico Stanley Jaki, autoridade mundial em cosmologia, o qual "considera que a cosmologia moderna é profundamente compatível e coerente com a Criação e a Providência de Deus". Jaki afirma que a física é "absolutamente incapaz de mostrar que um estado físico dado possa dever a sua existência a um ato diretamente criador, que tivesse trazido esse ser a partir do nada". Segundo ele, é preciso buscar respostas em outro campo de estudo.
Para analisar a questão a partir da filosofia, diz Cintra, devemos pensar nos conceitos de tempo e eternidade. "Filosoficamente, tudo o que existe ou é uma criatura ou é o próprio Criador; e portanto, o tempo é uma criatura ou, melhor, é uma característica das criaturas; é precisamente aquilo que mede a permanência no ser e, mais propriamente, o fluir, a mudança, o "desgaste" das criaturas, que não se conservam a si mesmas" (p.13). O conceito de eternidade, por sua vez, em oposição ao de tempo, denota, diferentemente do de tempo infinito, a ideia de "posse total, simultânea e perfeita da própria vida" (Boécio/Santo Tomás), sem perecimento. Portanto, nessa concepção a eternidade acaba por ser o próprio Deus, situado fora do tempo, não sujeito a nada, só a Si mesmo. Por vivermos no tempo, nos é extremamente difícil conceber a eternidade, assim como o tempo infinito. Há filósofos que admitiam que o mundo estava numa linha do tempo infinita que se expandia para ambos os lados, como Aristóteles. São Tomás afirma que se trata de algo que a razão humana não é capaz de afirmar nem de desmentir.
Pela fé, conhecemos que Deus criou o mundo, portanto, o mesmo não possui duração infinita. No início do livro de Gênesis lemos "No princípio Deus criou o céu e a terra". Houve, assim, um início. Em Macabeus 10, 20 - diz Cintra - se lê que "Deus criou o mundo do nada"; daí se entende que não havia uma matéria preexistente. Cintra continua dizendo que independente daquilo que se poderá concluir sobre esse tema, ter ou não ter começo não excluiria a necessidade de o mundo ter sido criado (p.15). Para justificar isso, ele evoca os argumentos de Santo Tomás de Aquino a respeito das "cinco vias para provar a existência de Deus", os quais independem da constatação de que houve ou não um começo para o mundo. Assim, se o mundo existe como realidade contingente é pelo fato de ter recebido o ser de alguém. Assim, a questão "Por que o ser e não o nada?", de Heidegger seria solucionada pelo ato criador de Deus.
Em relação à origem da vida, a mesma coisa se dá. As explicações verdadeiramente científicas não entram em contradição com a Revelação; ao contrário, elas lhe são coerentes e apropriadas. Segundo os próprios evolucionistas a origem da vida é quase um milagre tendo em vista as condições que teriam de ser satisfeitas para que a vida brotasse da matéria inerte. Não há nenhuma explicação cientificamente convincente sobre o tema. De fato, a teoria da 'geração espontânea' é mais improvável do que provável. Sabe-se, com certeza, que "a vida não pode provir da matéria pura e simples", dado que é fácil constatar que "a simples agregação de quantidades não pode produzir uma qualidade diferente" (p.21).
No entanto, o conceito filosófico de potência afirma que "a vida pode brotar a partir de algo que, aparentemente não tinha vida, mas que a tinha latente" (p.22). Exemplo disso é o pé de feijão. Assim, é plenamente possível que, no início do mundo, a matéria já contivesse a vida em potência e que "pouco a pouco esta foi desabrochando", assim como a planta desabrocha da semente. Se olharmos para a questão a partir da teologia, tanto faz para Deus criar a vida diretamente ou colocar desde o início "as potencialidades de vida dentro da matéria, para que se manifestem no momento oportuno". É próprio de Deus agir suavemente, como a brisa, sem que esse Seu modo de agir exclua a Sua intervenção. Logo, "a narração bíblica não exclui que as criaturas possam ter surgido, por evolução, uma das outras" (p.23). A possibilidade de existir um Criador é bem mais provável do que a hipótese de que toda a vida tenha surgido ao acaso, pois é possível intuir nos seres e nas coisas uma inteligência misteriosa.
Quanto à origem do homem, os argumentos são ainda mais interessantes e todos muito razoáveis e plausíveis. Não os irei expor aqui para que você, caro leitor, não fique isento de ler o livrinho aqui sugerido para sua instrução e esclarecimento. Espero que faça uma boa leitura e tire, você, as suas conclusões. Nossa família ficou muito feliz com o caminho de conciliação que encontramos e com a clareza de que a ciência não está em contradição com a fé, dado que ambas são conduzidas pela razão humana. Boa leitura!
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