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O amor tudo desculpa


Com base na Exortação Apostólica Pós Sinodal do Papa Francisco proponho refletir sobre essa passagem em que São Paulo apóstolo comenta que o amor "tudo desculpa". O papa diz que ao dizermos que o amor "tudo desculpa" não estamos dizendo que ele não "tem em conta o mal", ou seja, não significa "guardar silêncio" a propósito do mal que  possa haver em outra pessoa. Implica limitar o juízo, "conter a inclinação para se emitir uma condenação dura e implacável: "Não julgueis e não sereis julgados" (Lc 6,37)". 

Acho isso interessante, pois segundo Francisco, esse termo deveria ser interpretado como um esforço que cada sujeito que ama precisará fazer para não falar mal daquele que ama. "Deter-se a danificar a imagem do outro é uma maneira de reforçar a própria, de descarregar ressentimentos e invejas, sem se importar com o dano causado. Muitas vezes esquece-se que a difamação pode ser um grande pecado, uma grave ofensa a Deus, quando afeta seriamente a boa fama dos outros, causando-lhes danos muitos difíceis de reparar", diz o pontífice.

Francisco nos lembra de que a Palavra de Deus nos alerta para o fato de que língua humana contém em si "o universo da malícia" e "um mal que não desiste e está cheia de veneno mortífero". Ao nos lembrar disso, o Papa afirma que o amor faz o contrário: 

"(...) defendendo a imagem dos outros e com uma delicadeza tal que leva mesmo a preservar a boa fama dos inimigos. Ao defender a lei divina, é preciso nunca esquecer esta exigência do amor". (Amoris Laetitia) 

Confesso que esta palavra neste dia me corrige. Tão facilmente estamos prontos para contar para o mundo os pecados que os irmãos cometeram conosco! A ilusão de fazer isso é a de que estamos procurando ser justos. No entanto, há aí uma má intenção velada, uma incapacidade de fazer o que Jesus nos pede - amar os nossos inimigos e fazer o bem para aqueles que nos perseguem. Sim, é duro ser cristão. O tempo todo temos que admitir que falhamos. Mas, eu  quero essa cruz, essa pequena cruz é fonte de grandes alegrias. 

Peço a Deus que me dê a graça de amar os meus inimigos - aqueles que me fizeram o mal propositadamente. Como fazer isso? Através dessa graça própria do amor que tudo desculpa e, após abrir mão da enorme fraqueza de tentar fazer "justiça com as minhas próprias mãos", receber o perdão de Deus pelo sacramento da confissão, e não mais voltar a pecar. 

Agora é guardar com amor a imagem de todo aquele a quem perdoei as ofensas, assim como o Pai me perdoou, oferecendo a ele e ao mundo um testemunho da enorme misericórdia de Deus que, com seu enorme amor, nos resgata e nos liberta da prisão de fazer mal até mesmo àqueles que o mal nos fizeram. 

Já que Ele com seu amor me desculpou e com seu Sangue me exaltou, sinto-me impelida a amar e exaltar particularmente aqueles que me odeiam devido ao mal do pecado que em nós habita. Eles também poderão se libertar, se sentirem o Amor Misericórdia lhes tocar.

"O amor convive com a imperfeição, desculpa-a e sabe guardar silêncio perante os limites do amado", adiciona Francisco. 

Pela graça de Deus, eu ainda chego lá. Obrigada por me amar, Senhor! Por Maria, em Maria, com Maria e para Maria eu digo SIM ao amor. 💕🙏🌼✨🌹

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